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Nobel de Economia defende ‘empurrãozinho’ na direção certa


Quanta liberdade devemos ter na hora de fazermos nossas escolhas? O governo deve ter o direito de restringir algumas das nossas opções para o nosso próprio bem? Para os liberais ortodoxos, este tipo de ideia traz calafrios. No entanto, estudos da economia comportamental mostram que pequenas mudanças na forma como as diversas alternativas nos são apresentadas pode influenciar muito a nossa tomada de decisão. Como lidar então com este poder?

Uma das grandes contribuições feitas pelo vencedor do Prêmio Nobel de Economia deste ano, Richard Thaler, é o conceito de nudge: um “empurrãozinho” na direção certa. No livro “Nudge – O empurrão para a escolha certa”, em coautoria com o jurista Cass Sunstein, Thaler trabalha com a ideia de arquitetura da escolha. Podemos influenciar positivamente as escolhas dos outros apenas na forma como as opções são apresentadas.

Para ilustrar o conceito, ele traz o exemplo da responsável pela lanchonete de uma rede de escolas privadas. Ela tem diversas opções na hora de definir como o menu será exibido. Ela pode “esconder” as guloseimas, deixando os alimentos mais saudáveis em locais de acesso mais fácil – priorizando, assim, a saúde dos alunos. Ninguém os força a pedir frutas, mas a escolha mais saudável é facilitada. Outra alternativa é escolher a ordem dos alimentos de forma aleatória, ou mesmo exibi-los de forma a fazer as crianças escolherem as comidas que pediriam de qualquer forma. Por fim, ela pode também aumentar as vendas de produtos que oferecem uma margem maior para a cantina.

Na visão de muitos, a primeira opção chega a ser paternalista – mas todas as outras são muito piores. O economista explica então que esta personagem é uma arquiteta de escolha – a pessoa que tem a responsabilidade de organizar o contexto dentro do qual as decisões são tomadas. Os autores fazem um convite para conhecermos o movimento do paternalismo libertário: eles desejam levar as pessoas a tomarem decisões melhores para suas vidas, sem tirar as alternativas. A sua opção de escolher fica preservada.

“Um nudge é qualquer aspecto da arquitetura de escolha que altera o comportamento das pessoas de forma previsível sem proibir nenhuma opção ou mudar significativamente os seus incentivos econômicos”, explica Thaler, e emenda: “Colocar frutas no mesmo nível dos nossos olhos conta como um nudge. Proibir comidas não saudáveis, não”.

O conceito foi recebido com interesse no universo das políticas públicas. Em 2010, David Cameron lançou no Reino Unido o Behavioral Insights Team, a primeira instituição governamental dedicada à aplicação das ciências comportamentais, conhecida informalmente como “Unidade Nudge”. Em pouco tempo, a Casa Branca replicou o modelo nos Estados Unidos.

Estas equipes já trabalharam com diversos projetos que mostram até que ponto as conclusões de estudos de economia comportamental podem impactar a vida das pessoas de forma positiva. Um exemplo interessante aconteceu na Inglaterra, onde a equipe ajudou a aumentar a taxa de recolocação profissional.

O sistema implementado pela “Unidade Nudge” garantia que quem estava desempregado deveria ter uma conversa com um orientador sobre como encontrar um novo emprego. Estas pessoas eram incentivadas a montar planos claros para as semanas seguintes, entre outras medidas simples. Em 13 semanas, as pessoas que usaram as táticas propostas pelo time tinham de 15% a 20% menos chances de continuarem desempregadas.

O trabalho de Thaler já tinha ampla repercussão, que foi amplificada com o Prêmio Nobel deste ano. O economista comportamental conseguiu comprovar, na prática, como as sacadas de um campo de estudo teórico pode mudar a qualidade de vida das pessoas. Uma “Unidade Nudge” faria bem ao Brasil – com baixo custo, ela pode ter um impacto enorme na sociedade. #ficaadica


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